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Qual a diferença entre tremolo e vibrato?

Um dia desses em um website alguém perguntava sobre a diferença entre vibrato e tremolo.
Achei interessante ver as diversas respostas do pessoal e também ver quanta confusão há em relação a estes dois efeitos. Foi por esse motivo que resolvi escrever este pequeno post para passar um pouco do que sei sobre o assunto.

Algo que notei é que, muitas vezes o pessoal tenta explicar o efeito em termos do instrumento que toca, o que em geral apenas serve para causar mais confusão na cabeça de quem não está por dentro do assunto. Por exemplo, alguém que toca violino explica que o vibrato é “mexer o dedo para lá e para cá enquanto segura a nota” mas não sabe explicar bem o que é o tremolo, um outro que toca guitarra explica que o tremolo “é o efeito que dá ao mexer com a alavanca da guitarra, e o vibrato é mais ou menos a mesma coisa” . Bom, se fosse assim, imagino que um flautista nunca conseguiria fazer nem um vibrato nem um tremolo com o seu instrumento!
Brincadeiras à parte, é importante saber que essas explicações são apenas “maneiras” de obter os ditos efeitos, e que conceitualmente há mais.

O que são estes efeitos então?
Estes dois efeitos são efeitos de modulação. É uma palavra um pouco estranha para quem não está muito por dentro do jargão de áudio, mas modulação aqui basicamente significa “variação”.

O tremolo é uma modulação (i.e. variação) de amplitude, enquanto o vibrato é uma modulação (ou variação) da freqüência do som.

Para aqueles que não estão bem certos do que são amplitude e freqüência de um som, imagine que a amplitude é a força de um som. Por exemplo, um som fortissimo é um som com uma amplitude grande, e um som piano é um som de pequena amplitude. Pegou? A amplitude está relacionada com o ‘volume’ de um som. A freqüência, por sua vez, está relacionada com a nota que você toca. Notas mais agudas tem uma freqüência mais alta, enquanto sons graves (e.g. os bordões da guitarra) são de freqüência baixa. Isso talvez não seja nenhuma novidade para quem já é músico, mas o que pode ser novidade para você é que os efeitos de tremolo e de vibrato são respectivamente variações periódicas desses dois elementos. Simples assim. O tremolo é uma variação periódica na amplitude do som e o vibrato é uma variação periódica na freqüência do som.

Se você estiver tocando o seu instrumento e ficar variando a força com que você toca (e.g. a pressão do arco do violino, a quantidade de ar que entra na flauta, variar o controle de volume de um instrumento eletrônico, etc.) você está produzindo um efeito de tremolo.

Se você tocar o seu instrumento e conseguir ficar variando periodicamente a nota (de preferência só um pouquinho), você está produzindo um efeito de vibrato. Esse é o efeito que o violinista consegue quando “mexe o dedo” ao tocar. É o mesmo efeito que você pode produzir com a chamada pitch wheel dos teclados midi.

Para o pessoal que é bom no inglês, nesse link (www.vibroworld.com/magnatone/vibrato.html) tem um explicação bem legal sobre os dois efeitos do ponto de vista de um guitarrista, e mostra de onde vem a confusão que esses músicos têm em relação a esses efeitos. Até sugere uma experiência para você fazer com a sua guitarra em casa e ver a diferença entre os dois efeitos.

Por falar nisso, confusão, existe muita, e não só entre os guitarristas. Instrumentistas e cantores em geral confundem o ‘efeito’ com a ‘técnica’ e tudo secundado pela tradição. Por exemplo, flautistas chamam de ‘vibrato’ um efeito que na verdade é muito mais próximo do tremolo, visto que eles alteram a pressão da coluna de ar para criar a variação no som. Não há necessidade de fazermos uma guerra terminológica, afinal o uso consagra o termo, mas isso não quer dizer que não precisamos aprender o que é cada coisa da forma correta.

Afinal de contas, existe uma diferença real?
Bem, os dois efeitos são conceitualmente distintos. Cada um deles varia uma característica diferente do som. Um varia a freqüência (ou a nota – também chamada de pitch em inglês) e o outro varia a amplitude. Entretanto estes dois efeitos de modulação estão intimamente relacionados, tanto na sua produção quanto na sua percepção pelo nosso ouvido. É muito difícil, se não impossível, um músico conseguir produzir com seu instrumento apenas um vibrato ou apenas um tremolo, a não ser que seja através de meios eletrônicos (um pedal de efeitos por exemplo).
Além disso, o nosso cérebro constantemente interpreta variações de amplitude como variações na freqüência e vice-versa. Você pode confirmar isso quando um carro de som ou uma ambulância com sirene passa por você na rua. A freqüência do som não muda, mas você acha que ele fica mais grave quando o carro está longe e mais agudo quando o carro passa perto de você.

Apenas para deixar claro, esse não é o chamado efeito Doppler (embora apareça na mesma situação), mas apenas uma interpretação errônea do nosso cérebro que percebe uma variação de intensidade como variação de freqüência.

Vendo e ouvindo
Para aqueles que são mais do tipo visual-auditivo, coloquei abaixo as formas de onda de um tom de 440 Hz – o famoso lá usado para afinar a orquestra, na sua versão puramente sinusoidal – com tremolo e com vibrato. Para ouvir essas formas de onda, você pode baixar os respectivos arquivos .wav da minha conta no Mediafire clicando nos links abaixo:

Estas duas formas de onda .wav foram criadas com o ótimo software CSound, e caso você queira baixar o código, basta clicar aqui para acessar o arquivo CSD na minha conta do Mediafire.

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Imagem 1: Senóide de 440 Hz (lá da orquestra) com efeito de trêmolo.

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Imagem 2: Senóide de 440 Hz (lá da orquestra) com efeito de vibrato.

Note na Imagem 1 como o som decresce e cresce periodicamente. Nos ‘picos’ o som está mais forte, enquanto nos ‘vales’ o som é mais piano. Isso é o efeito de trêmolo puro. Uma variação periódica (modulação) na amplitude do som. Lembre que a amplitude está diretamente relacionada com o volume do som.

Na Imagem 2 por outro lado, o som não fica mais forte ou mais fraco. A amplitude é sempre constante. A freqüência é que varia periodicamente. Nas partes mais densas do gráfico o som é mais agudo, enquanto que nas partes menos densas o som é mais grave. Isso é o efeito de vibrato puro. Uma variação periódica (modulação) na freqüência do som.

Para o pessoal que tem um background mais técnico, os efeitos de tremolo e de vibrato são respectivamente os chamados sinais AM e FM – i.e. amplitude modulada e frequencia modulada.

Atenção: Nestes arquivos de exemplo os efeitos de trêmolo e vibrato estão bastante exagerados para facilitar a compreensão e a visualização. Em geral, se você toca algum instrumento o efeito será muito mais sutil, bem diferente destes efeitos sonoros tipo “O Planeta Proibido”! 🙂

Espero que esse texto tenha ajudado a esclarecer a diferença importante entre tremolo e vibrato. Se você tem alguma outra sugestão de assunto sobre o qual gostaria que eu escrevesse, deixe seu comentário.

Abraços!

  1. Evandro
    janeiro 19, 2014 às 4:48 pm

    A música Cathedral do Van Halen então é um exemplo de tremolo (“e que tremolo, digasse di passage).

    • fevereiro 3, 2014 às 4:06 pm

      Olá. Obrigado pelo comentário.

      Em “Cathedral” Eddie Van Halen usou o controle de volume para aumentar e diminuir o som manualmente, realizando uma modulação de amplitude. Sim, é o mesmo princípio do tremolo, porém para caracterizar um “tremolo” em geral é necessário uma modulação aproximadamente constante e mais rápida do que a usada na música “Cathedral”. De qualquer forma, o princípio físico é exatamente o mesmo usado para produzir o tremolo.

      Abraços!

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